
Unidos do Porto de Cima (PC)
2004 foi o ano que marcou a origem da atual quadrilha folclórica Unidos do Porto de cima, ou somente “PC”, como é conhecida amplamente na cidade. Naquele ano aconteceu a primeira participação da quadrilha durante as festas juninas da cidade, que acontecem na praça de São João Batista entre os dias 14 e 24 de junho de cada ano. Antes da existência da Unidos do PC o bairro farense já tinha uma quadrilha junina, conhecida como “Quadrilha do Cango”, que fazia apresentações durante as festividades do Divino Espírito Santo, padroeiro do bairro. Assim, até a criação da Unidos do Porto de Cima, o bairro não tinha quadrilha que o representasse na praça matriz.
Localização do bairro Porto de Cima, em Faro(PA).

Fonte: Google Maps
Desafiados e encorajados a representar o bairro em evento de abrangência municipal, jovens do Divino Espírito Santo se uniram para instituir a quadrilha, tendo como data de fundação o 22 de maio de 2004. Dentre estes jovens estava Francelina, que desde o início de sua participação se dedicou às atividades de costura e dança; juntamente com Franklin, marcador e coreógrafo. Ambos permaneceram durante os anos seguintes executando as referidas atividades. Outros nomes também marcam o início desta quadrilha, como Odemila, Rocivana, Nenê, Saborear, Do Carmo, Rosilene, Carlinho e Francinha.
Decididos pela apresentação em âmbito municipal, começaram os preparativos: ensaios, confecção de roupas e adereços, tudo para marcar sua trajetória com uma bela estreia. As famílias do bairro se envolveram, as casas das mães dos integrantes se tornaram os primeiros “QGs” da quadrilha, onde se reunia todo o material que estava sendo preparado para o grande dia. Os ensaios aconteciam em frente à casa do marcador Franklin, na sede dos pescadores, conhecida como “bodozal”, porque alagava e formava lama quando chovia. Felipe dos Anjos considera que destacar o lugar de ocorrência dos ensaios evidencia a sustentação de uma atitude discriminatória pelos outros. Diz ele: “tudo era questão de preconceito: a quadrilha do Porto de Cima dançava no ‘bodozal’ e as meninas eram ‘tuíras’, porque dançavam na lama, ensaiavam na lama. Isso gerou meio que um preconceito, mas a gente pegava esse preconceito e transformava em orgulho e ia dançar”.
“Unidos do PC” surgiu da união dos moradores do bairro, e mesmo a sigla “PC”, atrelada a uma gangue local, fora tomada como símbolo de transformação dos significados atribuídos ao Porto de Cima. A princípio houve receio de que, adotando “PC”, se pudesse atrelar a quadrilha à imagem que a gangue passava, mas, se esse era o nome através do qual se notava o bairro, os quadrilheiros resolveram fazê-lo ser notado também por sua arte.
Desta forma que, em 12 de junho de 2004, vestiram roupa feita de saca e dançaram quadrilha na praça de São João Batista, ficando em terceiro lugar na competição e recebendo, como prêmio, uma grade de cerveja. A comemoração foi no “bodozal”, onde dizem que Franklin fez um guisado de pato que nunca amolecia. De tais memórias que vai se ganhando densidade o tecido sociocultural deste grupo quadrilheiro, a ponto de os integrantes do “PC” considerarem duas datas fundacionais: o 22 de maio de 2004 e o 12 de junho do mesmo ano.
A escolha das cores e do símbolo da quadrilha estão relacionadas ao padroeiro do bairro, o Divino Espírito Santo (motivo consequente de ser o padroeiro da quadrilha) que estaria sempre os acompanhando desde sua criação, embora assumido como padroeiro somente em 2007, ano em que a Unidos do PC conquistou seu primeiro título do festival, que já não se realizava mais na praça. As definições da cor e símbolo, no entanto, se dariam somente em 2009, devido ao equívoco do então apresentador da quadrilha quando a chamou para a arena trajando “as cores oficiais vermelho e branco”, mas a quadrilha entrou de vermelho e amarelo. O amarelo, na ocasião, esteve ligado ao estandarte do Divino, explica Felipe Afonso, um dos guardiões dessas memórias: “as cores que se carrega em estandarte do Divino Espírito Santo são branco, vermelho e dourado, são as três”. Porém, a partir daquele ano, que a Unidos do PC perdeu o festival devido ao equívoco do apresentador, sentiram a necessidade de instituir a cor oficial e o símbolo da quadrilha. “Vermelho e branco, tira o amarelo”.
Como símbolo ou mascote foi escolhido o pombo branco, mas, enfatiza Felipe que “nosso mascote é o pombo, o símbolo é o pombo branco e o padroeiro é o Divino Espírito Santo, então, a alegoria que sempre se leva pra lá não é o Divino, é o pombo que é o nosso mascote. O Divino tá sempre na camisa e no estandarte com todas as honras que merece, sempre nos abençoando. Ou ele tá no seu andor, ou ele tá coroado, são os modos que a gente leva ele. Aí sim, instituiu cor, símbolo e padroeiro”. Essas decisões estão registradas em ata da reunião que se realizara.
As músicas da quadrilha, comumente são paródias de músicas juninas populares, e a criatividade em parodiar é um dom dos compositores do festival como um todo. O grito de guerra da quadrilha também é criado em forma de paródia e se conformou como “Eu sou do PC com muito orgulho, com muito amor!”. Até o momento, a Unidos do PC ostenta quatro títulos do Festival de Quadrilhas Folclóricas de Faro, sendo, portanto, tetracampeã. Seus títulos aconteceram nos anos de 2007 (empatou com campinense), 2011, 2012 e 2019 (empatada com Morumbi).

Referências:
COSTA, Felipe Afonso dos Anjos da. Entrevista concedida para este projeto em 17/04/2021.
SOUZA, Francelina de Oliveira. Entrevista concedida para este projeto em 20/04/2021.
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