
Quadrilha Morumbi no Arraiá
A quadrilha folclórica do bairro Morumbi conta uma história de superação. O bairro, localizado no limite leste da cidade, é um dos mais carentes do município, em termos de oferta de serviço e disponibilidade de infraestrutura urbana, além de ter tido sua população jovem estigmatizada pelo entendimento comum acerca do lugar, que atribuía ao bairro a fama de abrigar gente “galerosa” – gíria que em sentido local caracteriza alguém como mau elemento, brigão, que faz parte de um grupo com comportamento reprovável.
Localização do bairro do Morumbi, em Faro (PA)

Fonte: Google Maps
Fundada em 13 de maio de 2005, com os jovens Delivaldo dos Anjos Vasconcelos e William Guimarães Pinto, que atenderam o convite de uma professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria de Faro Lopes Chaves, as atividades relacionadas à Quadrilha Morumbi no Arraiá passaram a fazer parte da vida cotidiana dos moradores do bairro. Nesse período, a referida escola já possuía uma quadrilha que a própria professora coordenava, todavia, não existia uma estrutura organizada de quadrilha competitiva, somente de apresentação em festival da escola.
O primeiro ensaio da quadrilha aconteceu em frete a casa da Srª Maria Borges, próximo ao ginásio. Os demais ensaios ocorreram em frente à casa do Sr. Delivaldo Vasconcelos. Os primeiros brincantes foram alguns alunos da escola acima mencionada e alguns ex-participantes da quadrilha Campinense no Arraiá, que vieram junto com o marcador da quadrilha e fundador da mesma.
Ensaios, que começam aproximadamente três meses antes do festival de cada ano, planejamento de bingos e promoções visando angariar recursos para os materiais necessários à realização da quadrilha no festival, bem como a cooperação na confecção de roupas, adereços e acessórios dos brincantes e torcida da Morumbi no Arraiá, desde então, fazem parte do calendário de atividades das pessoas do bairro e dos simpatizantes desta quadrilha.
A Morumbi no Arraiá é uma quadrilha jovem, tendo feito sua primeira participação no desfile de quadrilhas, quando este já não acontecia mais na praça do padroeiro da cidade, mas sim na Quadra Poliesportiva Cléber Campos D’Antona (2005) e no Ginásio Municipal (2006 – Atual). No ano de 2014, a quadrilha Morumbi no Arraiá fez sua apresentação no festival de quadrilhas de Faro, ficando no 3º lugar. O presidente da agremiação nesse ano foi o Senhor Andrei Brito e vice-presidente o Senhor Sandro Reis. O tema desenvolvido pela quadrilha foi: “Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje”. A quadrilha prestou uma linda homenagem ao padroeiro do bairro do Morumbi, Santo Expedito.
Suas cores são, predominantemente, o azul e o branco, com o alaranjado incorporado aos trajes, para mediar a harmonia da indumentária dos brincantes com seu símbolo: o tigre. Esta é a única quadrilha entre as que participam do Festival de Quadrilhas Folclóricas de Faro que não atrela seu símbolo a uma ave, o que possibilita aos seus integrantes abarcar, no gracejo de cada vitória nos festivais, todos seus adversários em um só gesto de zombaria: “o tigre comeu todas as aves”.
Segundo Suziele (brincante da Morumbi desde o início do Festival, tendo se ausentado entre 2012 e 2015, e desde 2016, integrante da Comissão da Morumbi), o tigre é o símbolo desta quadrilha devido à “garra, determinação [pois] quando ele quer algo ele vai pra cima”. O “tigre do povão” incorporaria em sua imagem o lema desta quadrilha: carisma, fascínio e determinação.
Como fruto desta garra e determinação, a Morumbi no Arraiá colecionou 3 vitórias no Festival, nos anos de 2016, 2017 e 2019 (este último empatado com a Unidos do PC). Impondo com isso uma reviravolta na expectativa geral sobre o desempenho das quadrilhas na disputa festiva, depois de um início de poucos títulos, amargando por anos o 4º lugar nesta competição. Em 2016, a quadrilha desenvolveu o tema “Morumbi uma nova paixão”, e em 2018, “Somos consagrados por Maria, a São João fazemos romaria”. Neste ano a quadrilha obteve o segundo lugar no festival.
Seus integrantes, entre brincantes e dirigentes, creditam o sucesso recente às inovações que incorporaram: substituição da chita pelo cetim, como material mais abundante na indumentária da quadrilha; casamento caipira de teor romântico; presença de alegoria mecanizada, uso de determinados passos de dança bem como incorporação de instrumentos musicais diversos, para ambientação sonora da apresentação no Festival.
A Morumbi tem mantido diálogo frequente com artistas que fazem o Boi de Parintins, tendo deles apoio na confecção das alegorias e no uso de metal e solda, bem como tem contado com a participação de costureira de Terra Santa para colaborar com as indumentárias dos brincantes e destaques da quadrilha. Tais experiências contemporâneas da Morumbi tem garantido a ela uma postura regionalizada, capilarizando o processo produtivo e criativo do festival, nos ambientes propícios que a região de fronteira – entre o estado do Pará e Amazonas – tem possibilitado.

Referências:
BRITO, Andrei de Souza. Entrevista concedida em 15/04/2021.
PINTO, William Guimarães. Entrevista concedida em 30/04/2021.
SOUZA, Suziele Castro de. Entrevista concedida em 20/04/2021.
VASCONCELOS, Delivaldo dos Anjos. Entrevista concedida em 11/05/2021.
Contato/ Redes sociais
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